CRÓNICA MIGUEL AZEVEDO
"O CAMPEÃO SEM VENCER"
Foi uma referência comum nas reportagens do recente Rali Ilha Lilás o facto de Ricardo Moura ter feito o “pleno” de vitórias no campeonato açoriano desta temporada, exactamente a terceira consecutiva em que o piloto do Team Além Mar conquistou o título absoluto, e desta feita com uma superioridade incrível para a restante caravana. Não sou dado a estatísticas, mas não é difícil adivinhar que a dupla Moura/Eiró impôs o EVO9 azul-escuro na maioria das “especiais” em 2010, afinal para ganhar títulos há que vencer…mas nem sempre foi assim.
É certo e sabido que os campeonatos são também provas de regularidade, mas se recuarmos 22 anos no palmarés dos ralis açorianos, encontramos mesmo um piloto que foi campeão regional – sim, nessa altura, e até 2003, o campeonato tinha essa designação… – sem ter ganho nenhum rali. Nem sequer uma classificativa. Falamos de Milton Carreiro, piloto micaelense infelizmente já falecido, e que na época de 1988 logrou esse feito, interrompendo os títulos absolutos de Horácio Franco, que nessa altura estava em mudanças para o Mazda 323 4WD, carro que demorou a adquirir fiabilidade, e no mesmo ano em que Luís Pimentel trouxe para a região a então novidade Lancia Delta Integrale. Milton Carreiro, acompanhado por Luís Dias – pai do jovem piloto com o mesmo nome… -, tripulava então um competitivo Peugeot 205 GTI 1.9 de grupo A, um possante automóvel com caixa de seis velocidades, com o qual não se conseguiu impor na estrada aos 205 de grupo N, e muito menos ao potente Renault 11 Turbo do Grupo Cofaco/Açorlanda guiado por José Eduardo Silva, esse sim o grande derrotado do ano dada a sua ineficácia em terminar provas, que não em vencer troços e liderar as contendas. Mas o facto é que o simpático campeão levou mesmo a melhor sobre toda a concorrência na prova final, beneficiando dos azares alheios, mas dando-se-lhe de sobra o mérito pela sua eficácia, assim como pela recordação da forma impecável como manteve o atrevido “leãozinho”, característica aliás comum às suas anteriores viaturas, e aqui recordam-se o Escort RS e o 205 GTI em que navegou o então piloto Rui Ferreira. É um pequeno episódio de entre as várias histórias que as décadas de ralis nos Açores (já) encerram. É que vai sendo tempo de as ir recordando…
MIGUEL AZEVEDO
AÇORES
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